domingo, 17 de abril de 2011


O ANJO QUE CONFORTOU O SENHOR


VIVER O MISTÉRIO PASCAL
A Igreja está em peregrinação. Durante o tempo da Quaresma percebemos mais vivamente esta peregrinação, que é o tempo de passagem da Igreja através do deserto. É um tempo de luta contra certas tentações, com a finalidade de tornar-nos mais fortes. No sentido espiritual podemos interpretar o "deserto" como o lugar de silêncio, onde experimentamos uma transformação como:

1) um desapegar-se de si mesmo para chegar ao autodomínio,
2) um esforçar-se para chegar à liberdade, serenidade e à vitória sobre os vícios,
3) um abrir-se para Deus, a Quem procuramos escutar na oração.

O povo de Israel foi transformado durante a sua caminhada no deserto. Durante os 400 anos que o povo viveu na escravidão, embora com comida em abundância, não recebeu nem uma mínima parte das comunicações que Deus lhes concedeu durante os 40 anos no deserto. A religiosidade do povo se formou precisamente ali, na austeridade, não obstante, na companhia dos Anjos, e também foi neste lugar que os Israelitas comeram o Pão dos Anjos. Também nós podemos contar com a ajuda angelical durante o tempo da Quaresma. Isto podemos verificar na Bíblia, por exemplo, quando o profeta Elias, perseguido e desanimado, querendo morrer no deserto, experimentou a ajuda do Anjo do Senhor. O socorro oferecido (cf 1 Rs 19,1-8) lhe permitiu retomar força e coragem para continuar o longo caminho até o monte de Deus.
O mesmo deve ter acontecido com Jesus. Os Santos Anjos estavam ali com Ele no deserto, quando estava esgotado pelo jejum de "quarenta dias e quarenta noites" e pelos assaltos do diabo, que por fim O deixou: "até o tempo oportuno" (Lc 4,13) , o que, segundo os Padres da Igreja, seriam as horas no Monte das Oliveiras.

O SERVIÇO DOS ANJOS
Jesus não veio para ser servido, mas para servir, embora os Anjos O servissem depois das tentações (cf Mt 4,11, Mc 1, 12).
No deserto, Ele não fez milagres para si mesmo, e, ao mesmo tempo, rejeitou energicamente Satanás, quando este tentou sugerir-Lhe o poder de fazer milagres, apelando até à providencial proteção angélica (cf Mt 4,6). E também no Monte das Oliveiras agiu de maneira semelhante. Tentado novamente pelo diabo, não pediu que o Pai Lhe enviasse mais de doze legiões de Anjos. Antes, reservou este ministério angélico para a Sua Igreja. Não obstante, a Bíblia não nos impede de imaginar, que em Sua vida, o Senhor teve uma relação estreita com os Anjos.
Os Anjos de Deus, que Jacó no Antigo Testamento viu subindo e descendo pela escada (Gn 28,12), agora de fato estão "subindo e descendo sobre o Filho do Homem" (Jo 1,51). A escada do céu, que, segundo os Padres da Igreja, prefigurava o mistério da encarnação, contém também o mistério da Paixão de Jesus, porque somente Ele podia abrir novamente o céu.

A ORAÇÃO DE JESUS
Quando o Senhor começou a Sua Paixão no Monte das Oliveiras, rezou fervorosamente.
O Pai celeste respondeu a oração de Jesus enviando-Lhe um Anjo. Jesus aludiu à possível ajuda dos Anjos, frente uma inútil ajuda humana: "Ou pensas tu que eu não poderia apelar para o Meu Pai, para que Ele pusesse à Minha disposição, agora mesmo, mais de doze legiões de Anjos?" (Mt 26,53). Mas o Senhor preferiu renunciar a uma intervenção com caráter de milagre, que teria desviado a Sua missão. Pelo contrário, Jesus quis oferecer à humanidade o testemunho do amor supremo.
O espírito do mal, que tentara o Cristo no deserto, aproximou-se tenebroso, entre os troncos das oliveiras. O tentador no Getsêmani fora até mais insinuante do que no deserto. O Senhor, porém, exprime toda a Sua dor num grito agudo, infinito: "Meu Pai, Meu Pai, se quiserdes afastar de Mim este cálice... porém, seja feita não a Minha, mas a Tua vontade". E o grito e o pranto elevam-se até ferir o Coração do Pai. E o Filho é escutado pela Sua piedade: "Apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, Àquele que O podia salvar da morte; e foi atendido por causa da Sua submissão" (Hb 5,7). "Apareceu-lhe um Anjo do céu, que O confortava" (Lc 22,43). Era a resposta do Pai.
O Anjo veio confortar Jesus. Não foram os homens, pois os Apóstolos, mesmo sendo convidados por Jesus para vigiar, adormeceram. Por isso só restava o Anjo. E entre as asas do Anjo, Jesus vislumbrava o mundo novo, a humanidade renovada pelo padecimento dessa noite, o Reino dos Céus vitorioso sobre o reino de Satanás.
Para o Anjo foi também uma experiência nova, ver o Senhor tão fraco, tão esmagado no chão, no meio de tantas trevas, abandonado por todos os Seus mais íntimos amigos. E ele, como Anjo, criatura desta Pessoa tão mergulhada no sofrimento , certamente não esqueceu aquilo que viu. Pode-se imaginar muito bem que foi uma experiência que marcou profundamente toda a sua existência angelical, e certamente a todos os Anjos que assistiram à Paixão do Senhor.
O envio do Anjo nos mostra também em que luta o Senhor estava envolvido. Porque depois do sofrimento no Horto, quando chegaram os soldados para prendê-l'O, Ele disse: "Esta é a vossa hora e o poder das trevas" (Lc 22,53). O aparecimento do Anjo mostra-nos que agora é a decisão da luta entre os Anjos bons e os anjos maus, os demônios, esta luta que começou na provação dos Anjos, e na qual os anjos caídos perderam seu lugar nos céus. Jesus avisou antes da Sua Paixão: "agora é o julgamento desde mundo, será lançado fora o príncipe deste mundo" (Jo 12,31). Quer dizer que Ele lançará fora o diabo.

CONSOLEMOS A JESUS
O episódio do Anjo do Getsêmani ofereceu freqüentemente, no passado, um ponto de partida para piedosas meditações para Horas Santas, de maneira que os devotos se tornaram 'anjos de conforto' para Jesus na Eucaristia, em reparação pelo abandono, pelas ofensas e pelos sacrilégios cometidos por muitos, como podemos ler no seguinte exemplo: "Jesus está só no Getsêmani; só é também Jesus no Sacramento do amor. Foi o Céu porém, que resolveu confortar o Divino Coração em Sua solidão, dor e tristeza. Quando no entanto, no Getsêmani, a violência da agonia foi tal, que a humanidade do Redentor esteve prestes a sucumbir, então um Anjo desceu para conforta-l'O... Jesus levanta os olhos e vê o Mensageiro de Seu Pai... já não está sozinho". No Getsêmani, um Anjo quebra a solidão do Mártir Divino, e, no Tabernáculo, quem desce para confortar Jesus? "Formações numerosas daqueles bem-aventurados espíritos", escreve São João Crisóstomo, "estão com as asas abertas diante do Tabernáculo, em adoração perpétua, e Jesus pede a Seus amigos ... Permanecei aqui e vigiai coMigo."
A piedade popular gosta de associar os Anjos à Paixão do Senhor: ora os vê recolhendo cada gota do Sangue derramado ao longo da Via Sacra, ora lhes atribui sentimentos de humana compaixão. Peçamos, pois, a estes Anjos, que nos preservem da indiferença diante do sofrimento do Senhor. A Paixão de Jesus não é algo para ser recordado de vez em quando, mas algo que marca profundamente a nossa vida, nosso ser e agir. Quantas vezes na história da Igreja ocorreu que, de um lado, os discípulos de Jesus estavam dormindo, enquanto os Seus inimigos realizavam zelosamente os planos mais perversos?
Os Anjos não compreenderam o mistério que se estava realizando com o seu Rei, mas agora convocam os fiéis para a veneração da Paixão: "Os exércitos dos Anjos rodeiam e veneram a gloriosa cruz, com santo temor, e eles convocam a todos os fiéis para a veneração. Todos vocês, que agora se tornaram brilhantes, pela prática do jejum, prostrai-vos com alegria e temor diante Dele e clamai: 'Seja bendita, ó Cruz preciosa, proteção do mundo'" (Liturgia ortodoxa do 3º Domingo da Quaresma).
Oração ao Anjo no Horto
Eu te saúdo, santo Anjo, que consolastes Jesus no Monte das Oliveiras.
Tu consolastes meu Senhor Jesus Cristo em Sua agonia.
Contigo louvo a Santíssima Trindade.
que te escolheu dentre todos os Anjos,
para consolar e fortalecer a quem é Consolo e Fortaleza de todos os aflitos
e que diante dos pecados do mundo
e, de modo especial, diante dos meus pecados,
repleto de dor, caiu no solo.
Pela honra que recebeste e pela disponibilidade, humildade e amor
com que ajudaste a santa humanidade de meu Salvador Jesus
eu te peço um arrependimento perfeito de meus pecados.
Consola-me na tristeza que atualmente me aflige
E em todas as outras penas que vão sobrevir,
Especialmente na hora da minha agonia. Amém.
(do Papa Bento XV)

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